Os efeitos não visuais da luz referem-se às respostas biológicas e fisiológicas que a radiação luminosa causa no organismo, além da visão. Essas respostas são mediadas por células ganglionares intrinsecamente fotossensíveis (ipRGCs), que contêm a melanopsina. Diferentes das células fotorreceptoras tradicionalmente associadas à visão (cones e bastonetes), as ipRGCs enviam sinais para áreas do cérebro responsáveis por ritmos biológicos, regulação hormonal e funções cognitivas.
Principais tipos de efeitos não visuais
- Ritmo circadiano e produção de melatonina
A luz é o principal regulador do relógio biológico humano. A exposição a luz azul ou luz intensa à noite pode suprimir a produção de melatonina, atrasar o sono e desregular o ritmo circadiano, resultando em insônia e fadiga. - Alerta, humor e desempenho cognitivo
A luz, especialmente com maiores componentes azuis, aumenta estado de vigília e alerta, melhora o desempenho cognitivo durante o dia e pode influenciar positivamente o humor. Por outro lado, exposição incorreta ao longo do dia ou à noite pode causar irritabilidade ou deterioração cognitiva. - Função neuroendócrina e emocional
A luz também regula outros hormônios (como cortisol), influencia variações na temperatura corporal e estados emocionais — contribuindo para bem-estar ou, se mal utilizada, agravando estresse e distúrbios de humor.
Impactos na Saúde Humana
- Distúrbios do sono: A exposição prolongada à luz artificial à noite, sobretudo com alto teor de azul, pode causar dificuldades para adormecer, sono fragmentado e má qualidade do descanso.
- Risco metabólico e cardiovascular: A desregulação do ritmo circadiano está associada a aumento do risco de obesidade, diabetes tipo II, hipertensão e outras condições crônicas.
- Saúde mental: Ritmos circadianos irregulares podem contribuir para transtornos do humor, como depressão e ansiedade, além de afetar desempenho cognitivo.
- Produtividade e bem-estar no ambiente de trabalho: A luz natural, quando bem aproveitada nos ambientes internos (como salas de aula ou escritórios), favorece concentração, humor e desempenho — o que foi demonstrado em estudos como o da UnB, que avaliou efeitos visuais e não visuais da luz em salas de aula.
Impactos na Fauna
- Alteração de comportamentos e ciclos biológicos: A poluição luminosa interfere nos ciclos noturnos de muitos animais — como aves migratórias, insetos e anfíbios — desorientando navegação, reprodução e alimentação.
- Desregulação de padrões reprodutivos: Muitas espécies dependem da alternância entre luz e escuridão (fotoperíodo) como sinal para reprodução. A luz artificial constante pode interromper esse sinal, causando falhas reprodutivas.
- Impacto nos ciclos alimentares e predatórios: A iluminação artificial noturna pode atrair presas ou predadores fora de seus horários naturais, desequilibrando cadeias alimentares.
Impactos na Flora
- Desregulação do fotoperíodo: Plantas também possuem ritmos biológicos que dependem da escuridão e da luz para fases como floração, brotamento e dormência. A luz artificial, especialmente durante a noite, pode causar florescimento fora de época ou inibição do florescimento.
- Fototropismo e fotossíntese: A luz irregular ou contínua pode alterar o crescimento direcional (fototropismo), induzindo padrões atípicos de crescimento e comprometendo a fotossíntese, ainda que em menor intensidade.