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310. Otimizar vistas para o exterior

Uma abertura lateral desempenha um papel importante não apenas na iluminação natural, mas também na conexão entre os espaços internos e externos. É essencial considerar o enquadramento das vistas para promover a saúde e o bem-estar das pessoas. Portanto, é necessário mudar a abordagem de projeto das aberturas, levando em conta não apenas a iluminação ou a área física da janela.

De acordo com Ko et al. (2021), existem três variáveis fundamentais para estabelecer a qualidade visual das aberturas laterais: conteúdo, acesso e clareza. Embora cada variável seja analisada separadamente, elas estão inter-relacionadas:

  • Conteúdo refere-se à avaliação dos elementos visuais observados pela janela, incluindo a relação com o entorno e a volumetria do edifício.
  • Acesso representa a extensão da visão que o usuário tem através da janela, que depende principalmente da posição ocupada e do layout dos ambientes.
  • Clareza diz respeito à avaliação da nitidez com que o conteúdo é apresentado ao usuário, relacionada aos materiais utilizados na estrutura da janela.

Considerar essas variáveis é essencial para projetar aberturas laterais que proporcionem uma experiência visual de qualidade e contribuam para o conforto dos ocupantes.

vistas para o exterior
As variáveis propostas para prover qualidade da vista, propostas por Ko et al. (2021).

Vamos analisar as três variáveis discutidas na pesquisa:

Conteúdo refere-se à combinação de elementos visuais que podem ser observados pela janela. O objetivo é estabelecer uma conexão dos usuários com o ambiente externo, proporcionando experiências estéticas que promovam o bem-estar psicológico e geral.

Ko et al. (2021) mencionam diversos estudos que demonstram a preferência por vistas com elementos naturais em comparação com paisagens urbanas. No contexto brasileiro, Fernandes (2016) também ressalta que vistas que incluem água, vegetação, céu ou paisagens naturais são as preferidas pelos usuários. Portanto, é desejável utilizar recursos naturais como referência para as vistas.

Os autores também enfatizam a importância dos eixos horizontais de visão, que criam três camadas visuais: solo, paisagem e céu. Cada camada oferece informações sobre o exterior, contribuindo para a qualidade da visualização. O céu fornece pistas sobre a hora do dia e o clima, a paisagem conecta-se com o entorno e o solo apresenta informações sobre o piso.

Acesso é a métrica que determina o quanto um usuário consegue visualizar do ambiente através de uma abertura específica. Em edifícios maiores, é desafiador proporcionar vistas adequadas para todos os usuários.

Um critério importante para o acesso à visualização é a distância entre o usuário e a janela. O parâmetro “Alas para luz natural” estabelece a relação entre a altura da janela e o alcance visual, garantindo que não haja áreas distantes ou sem acesso a janelas com vistas. Ko et al. (2021) mencionam outras normas que recomendam uma distância ideal de até 8 metros entre o usuário e a janela para avaliar a qualidade da vista. Caso essa distância não possa ser mantida, pátios internos com elementos naturais podem ser uma solução.

É importante considerar o layout dos ambientes para garantir um acesso adequado às vistas. A análise quantitativa baseada apenas em percentuais de áreas de parede e piso, comumente usada para avaliar a iluminação, pode resultar em espaços sem oportunidades de vistas.

A posição vertical da janela em relação à altura também afeta o acesso à vista. Para mais informações, consulte o parâmetro “Aberturas laterais – posição vertical“.

Clareza é a métrica que avalia a nitidez com a qual o conteúdo exterior pode ser visto, levando em consideração as obstruções visuais presentes na própria janela, como o desenho da janela, os tipos de  vidros, dispositivos de sombreamento, acuidade visual e sensibilidade ao contraste.

O desenho da janela desempenha um papel fundamental na qualidade da vista. Tanto o vidro quanto a moldura e os montantes podem influenciar a visualização dos elementos externos. As molduras podem bloquear ou modificar os limites dos elementos exteriores, enquanto os montantes, dependendo de sua orientação (horizontais ou verticais), podem afetar significativamente as camadas do horizonte ou dividir a cena em duas ou mais partes.

Ao utilizar dispositivos de sombreamento, é essencial minimizar os conflitos entre esses elementos e a vista do exterior. Dispositivos de maior escala facilitam a compatibilização, pois permitem enquadrar a vista em vez de fragmentá-la.

Além disso, é recomendável prever dispositivos automatizados sempre que possível, pois eles não exigem ações do usuário. Em situações em que o ajuste manual do dispositivo é necessário, muitas vezes ele é deixado na posição fechada durante todo o período, mesmo quando poderia ser aberto para permitir a entrada de luz indireta, o que seria benéfico para o ambiente.

Referências:

FERNANDES, J. T. Qualidade da Iluminação Natural e o Projeto Arquitetônico: a relação da satisfação do usuário quanto à vista exterior da janela e a percepção de ofuscamento. 2016. 339 f. Tese Doutorado – Universidade de Brasília, Brasília, 2016.

KO, W. H.; KENT, M. G.; SCHIAVON, S.; LEVITT, B.; BETTI, G. A Window View Quality Assessment Framework. LEUKOS, v. 0, n. 0, p. 1–26, 10 nov. 2021.

LAM, W. M. C. Perception and Lighting as Formgivers for Architecture. 1St Edition edition. New York: McGraw-Hill Inc.,US, 1977.

LAM, W. M. C. Sunlighting As Formgiver for Architecture. 1St Edition edition. New York: Van Nostrand Reinhold, 1986.

MILLET, M. S. Light revealing architecture. Hoboken, N.J.: John Wiley & Sons, 1996.

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