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007. Percepção

A percepção de um ambiente confortável ocorre quando três condições são atendidas: quando temos a liberdade de direcionar nossa atenção para o que queremos ou precisamos ver; quando as informações que buscamos são claramente visíveis e confirmam nossos desejos e expectativas; e quando o ambiente de fundo não compete nem distrai nossa atenção do objetivo principal. Em outras palavras, um ambiente bem iluminado nos permite realizar as tarefas que precisamos executar e nos faz sentir bem durante o processo.

A percepção pode ser definida como a função psíquica que nos permite receber e processar informações provenientes do nosso ambiente. Vários fatores interferem na forma como percebemos um objeto, incluindo estímulos sensoriais, a localização do objeto no tempo e espaço e a influência das experiências pessoais do indivíduo.

Constantemente, somos inundados por uma quantidade imensa de informações e nossa percepção inconsciente as assimila, passando por um filtro baseado em experiências prévias. Esse filtro classifica, interpreta e seleciona as informações em dois grupos: aquelas consideradas irrelevantes são armazenadas, enquanto as relevantes são incorporadas imediatamente e utilizadas para satisfazer nossas necessidades. Vale ressaltar que a percepção de um objeto não depende apenas dele, mas também do seu ambiente e contexto geral.

Um ponto relevante no processo de classificação da percepção é a influência das expectativas, que estão relacionadas a uma sequência de eventos. Temos a tendência de esperar que as informações sigam uma ordem ou sequência preestabelecida, com base em informações previamente processadas.

Além disso, o componente afetivo desempenha um papel fundamental, influenciando a quantidade de atenção que dedicamos a um elemento específico. Um estímulo agradável ou interessante tem o poder de capturar nossa atenção e nos levar a examiná-lo com detalhes, enquanto algo considerado irrelevante ou desinteressante pode passar despercebido.

Teoria da Gestalt

No início do século XX, pesquisadores alemães estabeleceram a Escola Gestalt de Psicologia. A Teoria da Gestalt postula que não podemos compreender o todo apenas através de suas partes isoladas, mas sim das partes por meio do todo. Afirmam que é somente por meio da percepção da totalidade que o cérebro é capaz de verdadeiramente perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou conceito. Segundo eles, o cérebro segue certas leis durante o processo de percepção, que facilitam a compreensão de imagens e ideias. É válido aplicar essas leis da teoria no processo de projetar a iluminação:

1. Lei da pregnância

Pregnância é a capacidade de perceber e reconhecer formas. Quanto mais simples uma forma, mais facilmente ela é assimilada. A simplicidade está relacionada à maneira como os elementos se organizam e à estrutura global que define claramente o lugar e a função de cada detalhe no conjunto. Por outro lado, formas mais complexas exigem mais tempo para serem decifradas, e quanto mais cores diferentes forem adicionadas à forma, maior será a dificuldade em interpretá-las.

Foto de David Yu, Pexels, 2020. 

A iluminação de um ambiente desempenha um papel fundamental na delimitação das formas. Tanto a iluminação natural quanto a artificial devem ser levadas em consideração. Certas formas podem ser destacadas à noite por meio da iluminação artificial, enquanto durante o dia podem ficar ocultas. A iluminação pode realçar as formas presentes no ambiente, como estruturas, mobiliário, espaços e percursos. Quanto mais definidas essas formas estiverem, mais clara será a percepção do usuário e maior será o conforto em relação às necessidades humanas.

2. Lei da proximidade e semelhança

Elementos próximos uns aos outros tendem a ser percebidos como um grupo pelo ser humano. No entanto, a proximidade por si só não é suficiente para explicar o agrupamento de elementos; é necessário que haja uma característica semelhante entre eles. Os conceitos de proximidade e semelhança se complementam e, por isso, são apresentados em conjunto.

A repetição de um componente arquitetônico, assim como a repetição de uma fonte de luz (seja natural ou artificial), cria um padrão harmonioso e pode ser um recurso para organizar as formas e os espaços na arquitetura. Os padrões geram um ritmo na composição, com níveis de importância equivalentes, ou podem ser utilizados para destacar um ponto, espaço ou objeto específico. Essa repetição e ritmo proporcionam uma sensação de coesão e harmonia ao ambiente.

Museu do Amanhã, Rio de Janeiro. Foto: Jéssica Fonseca Matos.

3. Lei da continuidade

O princípio da continuidade refere-se aos contornos contínuos e sem interrupções, onde há uma unidade linear que se estende na mesma direção e com o mesmo movimento. Este princípio ganha destaque quando há uma quebra inesperada dessa continuidade, chamando a atenção para um ponto específico. Esta quebra cria um foco de atenção, onde um elemento se destaca do restante da composição. Esse ponto de destaque pode ser uma intenção projetada, visando direcionar a atenção do observador para um elemento particular.

Foto de gdtography, Pexels, 2020. 

4. Lei do fechamento

O princípio do fechamento é aplicado quando nosso cérebro tende a perceber uma figura completa, mesmo quando parte das informações está faltando. No contexto da iluminação, isso significa que a aparência de um ambiente durante o dia é diferente da iluminação noturna. Durante o dia, com a iluminação natural, podemos ver a construção em sua totalidade, enquanto à noite, com o uso da iluminação elétrica, podemos esconder ou disfarçar certas partes dela. É possível enfatizar determinadas áreas ou formas, mas nossa mente preencherá automaticamente o restante da forma.

Mesmo que haja uma parte ausente ou obscurecida pela iluminação, nossa percepção visual completará a forma com base nas informações disponíveis. Isso mostra como nosso cérebro é capaz de preencher lacunas e criar uma imagem coesa mesmo diante de informações incompletas.

 

Foto Pixabay, 2020. 

A luz é um recurso fundamental disponível para os arquitetos, permitindo definir espaços, criar sensações e transmitir uma mensagem. No entanto, iluminar não se resume apenas a atender aos níveis de luz exigidos, mas também a integrar normas e exercitar a criatividade. Compreender a percepção do espaço é essencial para aproveitar a luz como uma ferramenta de projeto poderosa.

Referências:

LAM, William M. C. Perception and Lighting as Formgivers for Architecture. 1St Edition edition. New York: McGraw-Hill Inc.,US, 1977.

LIMA, Mariana. Percepção visual aplicada à arquitetura e à iluminação. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2010.

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