Thumbnail

006. Luz e Saúde

A relação entre luz e saúde é fundamental para o bem-estar humano. Assim como o corpo necessita de água e alimento, também precisa de luz. A luz desempenha um papel essencial como nutriente para o processo metabólico.

“A luz é como o fogo: um bom servo, mas um mestre pobre.
A exposição à luz é essencial para o funcionamento do sistema visual, desejável para ativar o sistema circadiano e valiosa para o tratamento de algumas condições médicas, mas muito dos comprimentos de onda errados, por muito tempo, na hora errada, e danos podem ocorrer. Cabe a qualquer pessoa envolvida no projeto e especificação de sistemas de iluminação estar ciente do que se sabe sobre os impactos positivos e negativos da luz na saúde, bem como do que não se sabe, e proceder com cautela.” –
(Boyce e Mcibse, 2006 – tradução livre).

Durante 200 anos, os cones e bastonetes foram considerados as únicas células fotorreceptoras presentes no olho. No entanto, em 2000, pesquisadores fizeram uma descoberta surpreendente: as células ganglionares na retina também são sensíveis à luz. Essas células possuem conexão com o relógio biológico localizado no cérebro, o qual, por sua vez, está conectado à glândula pineal, responsável pela regulação de diversos hormônios. Esta interconexão entre a luz, o ritmo corporal e os hormônios é bastante significativa. Vale ressaltar que a iluminação tem impactos não apenas visuais, mas também biológicos não-visuais. Portanto, pode-se afirmar que a iluminação satisfaz tanto as necessidades visuais quanto as de saúde do ser humano.

A rotação da Terra ao redor do sol estabelece um ritmo de 24 horas composto por períodos de luz (dia) e escuridão (noite). Este ritmo desempenha um papel crucial na regulação de diversos processos corporais, como o ciclo de vigília e sono, a temperatura corporal e a frequência cardíaca. O ritmo de 24 horas é conhecido como ritmo circadiano, que é essencial para o funcionamento adequado do organismo.

O ritmo circadiano exerce um papel fundamental na regulação da produção hormonal, incluindo hormônios como o cortisol e a melatonina, que desempenham funções importantes na regulação do sono. O cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, desempenha um papel energético ao aumentar os níveis de açúcar no sangue, fornecendo energia ao organismo. Esses níveis de cortisol são mais elevados durante a manhã e diminuem gradualmente ao longo do dia, mantendo-se em um nível adequado para as atividades diurnas e, posteriormente, reduzindo-se ao mínimo durante a noite.

Dois ciclos de 24 horas dos ritmos diários de cortisol (azul) e melatonina (cinza). Fonte: VAN BOMMEL, 2019.

Pela manhã, ocorre uma diminuição nos níveis de melatonina, conhecido como o hormônio do escuro, o que contribui para a redução da sonolência. Em indivíduos saudáveis, a produção de melatonina aumenta novamente quando escurece. É a luz da manhã que desempenha um papel importante na sincronização do nosso relógio biológico. Na ausência desse processo de sincronização, nosso corpo poderia adotar um ritmo incorreto de alerta e sonolência.

As células fotorreceptoras apresentam sensibilidade variada em relação aos diferentes comprimentos de onda da luz, assim como os cones e bastonetes. Em relação à melatonina, a sensibilidade biológica não visual está concentrada na região azul do espectro, enquanto a sensibilidade visual ocular está voltada para a região mais amarelada. Portanto, pode-se afirmar que a luz com uma temperatura de cor mais alta é biologicamente mais eficaz durante o período diurno, quando se busca diminuir o sono. No entanto, durante a noite, é recomendável evitar a luz com uma temperatura de cor elevada, optando por níveis mais baixos de luz azul- ver parâmetro Temperatura de cor.

Na figura abaixo, é demonstrada a curva de sensibilidade biológica não visual (AZUL) e a curva de sensibilidade ocular visual (VERDE), em função do comprimento de onda. Ao comparar as duas curvas, fica imediatamente evidente que a sensibilidade biológica à luz é bem diferente da sensibilidade visual. Enquanto a sensibilidade visual máxima está na região do comprimento de onda verde-amarelo, a sensibilidade biológica máxima está na região azul do espectro. A luz de alta temperatura de cor tem um impacto maior no sistema biológico do que no sistema visual.

Curva espectral de sensibilidade biológica não visual em azul, e curva visual de sensibilidade ocular em verde, com relação a supressão de melatonina. Fonte: VAN BOMMEL, 2019. 

Além dos hormônios cortisol e melatonina, a luz desempenha um papel importante na produção de serotonina. Esses três hormônios influenciam o relógio biológico mencionado anteriormente, bem como o estado de humor. É crucial manter um equilíbrio adequado desses hormônios. Baixos níveis de serotonina podem levar à depressão.

A iluminação também pode ser utilizada em terapias para pessoas com distúrbios biológicos. Por exemplo, terapias para distúrbios do sono, especialmente em idosos, distúrbios afetivos sazonais, distúrbios alimentares e problemas de sono em pacientes com Alzheimer. A luz natural é um dos melhores agentes antidepressivos disponíveis, sendo mais eficaz do que a luz artificial, devido aos níveis necessários para obter melhorias e ser facilmente alcançada por meio da iluminação natural.

Passamos a maior parte de nossas vidas em ambientes fechados, o que ressalta a importância de projetar edifícios que proporcionem níveis terapêuticos de luz, preferencialmente luz natural. Pessoas que vivem e trabalham em locais com luz inadequada correm o risco de ter seu ritmo circadiano perturbado e experimentar alterações de humor. Esses aspectos devem ser levados em consideração durante o processo de design. Os edifícios podem ser não apenas locais de abrigo, mas também espaços de cura.

Desse modo, é evidente que os benefícios da iluminação vão além das questões arquitetônicas e ambientais. Esses benefícios se estendem aos aspectos físicos e psicológicos, tornando-se verdadeiros benefícios para a saúde.

Referências:
BOUBEKRI, M. Daylighting, architecture and health: building design strategies. 1. ed ed. Amsterdam: Elsevier / Architectural Press, 2008.
MARTAU, B. T. A luz alem da visão : iluminação e sua relação com a saude e bem-estar de funcionarias de lojas de rua e de shopping centers em Porto Alegre. 2009. Unicamp, Campinas, 2009.
VAN BOMME, W. The science of lighting: A guide about the nature and behavior of light. (Lighting Academy).

Indicação de outros parâmetros